sexta-feira, 6 de maio de 2016

Foi naquela tarde, em Borlänge...

Mulher africana – Isabelle Vita


Foi naquela tarde, em Borlänge...


À Tessa Asplund, a afro-sueca, de aspecto frágil, que fez parar a frente de uma manifestação de neo-nazis

O teu gesto, que da razão fez a força, desarmou os que, através da força, querem ter sempre razão.
Há momentos de uma difusa claridade, em que a verdade se ilumina de repente e de uma forma fulminante.


Foi naquela tarde, em Borlänge,
negra de bandeiras, de suásticas e de caveiras,
que, da fragilidade trémula de um caule,
nasceu uma flor.
Uma pérola negra do rebento de uma semente antiga
- da memória do tempo dos escravos -
venceu a Besta, que não pára de escoicinhar.
A arma secreta e mortífera foi esse teu gesto digno
de entrares nua no covill
e de derrubares as muralhas,
da fortaleza onde habitam as serpentes.
Ergueste o teu punho de prata, 
onde guardas as sombras dos teus sonhos
e eu já não tive tempo
de oferecer-te um cravo vermelho, de Abril...

Alexandre de Castro

Maio de 2016

2 comentários:

mariagomes disse...

É belo e digno o seu poema, tal como o punho erguido de Tessa Asplund!

Alexandre de Castro disse...

O punho erguido de uma mulher fisicamente frágil, e que, corajosamente, esteve à altura das circunstâncias.O seu gesto, que da razão fez a força, desarmou os que, através da força (bruta), querem ter razão. Há momentos de difusa claridade, em que a verdade se ilumina, de uma forma fulminante.
Obrigado "poeta".
Abraço.