sábado, 25 de março de 2017

Poema de Sónia M. _ [celebração de um regresso (*)]

O Beijo _ Gustav Klimt _ 1907 e 1908



Dar-te-ia uma noite clara
Isenta de gritos e no
Zelo das margens do rio 

Que te banha a alma, beijaria 
Um a um os teus medos. Por 
Entre a sede das mãos, escorreria 

A verdade que entregámos aos pássaros.
Instante de luz a ofuscar os dias. 
Nesga de loucura a guardar os sonhos. 
Deitaria às águas um verso branco.
Astro fecundo nos meus verdes olhos. 

Mistério encostado ao céu da boca do 
Encanto, com que envolves 

As minhas mãos vazias. 
Morresse a lonjura no abraço do verso.
Antes não fosses um destino 
Sem tempo. Pátria perdida... à qual nunca regresso. 

Sónia M 

(*) Nota do editor.

Amabilidade da autora.

***«»***
Que belo é este poema, que fala da "verdade que entregámos aos pássaros", do “Astro fecundo nos meus verdes olhos”, que tanto encantam e seduzem, do “Mistério encostado ao céu da boca do Encanto”, mas que arrasta a sombra negra de um pesadelo amargo: "Antes não fosses um destino/Sem tempo, Pátria perdida… à qual nunca regresso”.
Um poema que é um diamante. E não é pela sua intenção declarada, mas sim pela sua exigente construção metafórica e lexical. Há nele verdadeiras preciosidades poéticas, no jogo hábil das palavras e das metáforas, que só os grandes poetas conseguem exprimir..
2017 03 19

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